segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Fantástico Cotidiano, no Sesc Osasco

Participamos do "Literatura Plural", sobre Realismo fantástico, no Sesc Osasco, no último dia 27. Dia lindo, sol radiante e aquele lugar incrível ... um campo aberto verde, amarelo, vermelho, colorido pela presença saltitante de crianças, brinquedos, sons, tendas brancas ... uma arquitetura feita principalmente de corpos!
Como começamos com "Instruções para subir uma escada" e lá não tem escadas, nos arranjaram uma pequena escada daquelas para subir nos palcos! Aquela escadinha lá no meio da grama, sem nenhuma função, tornou o evento mais cortaziano ainda! Bom, e lá fomos nós (só de lembrar fico dando risadinhas aqui dentro!), etiquetando o público, questionando e intrigando as crianças ... e depois das instruções (desculpa, queria chegar logo nessa parte), fomos à subida da escada. No final, como ela não levava a lugar algum, tinha-se que saltar dela para a grama. E aí, a fila de crianças, crianças, crianças, opa! Essa é a última! Não, tem mais. Ah! Estão saltando e voltando! Rsss!! Inacreditável a simplicidade da ação, que inebria esses potes pequenos e surpreendentes (vulgo crianças). Falando nisso, deixa eu ir ali buscar o meu na escola! Mas a aventura continua.


Teaser, por Valnei Nunes

http://www.youtube.com/watch?v=22cFo-ufbMY

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Fantástico Cotidiano, no Centro Cultural São Paulo























Tia em dificuldades, de Julio Cortázar

Divirtam-se:


Tia em dificuldades

Por que havemos de ter uma tia com tanto medo de cair de costas? Há anos que a família luta para curá-la da obsessão, mas chegou a hora de confessar nosso fracasso. Por mais que no esforcemos, a tia tem medo de cair de costas; e sua inocente mania nos afeta a todos, a começar por meu pai, que a acompanha fraternalmente a toda parte e vai olhando o chão para que a tia possa andar despreocupada, enquanto minha mãe se esmera em varrer o pátio várias vezes por dia, minhas irmãs apanham as bolas de tênis com que se divertem inocentemente no terraço, e meus primos apagam todo rasto atribuído aos cachorros, gatos, tartarugas e galinhas que proliferam lá em casa. Mas de nada adianta, a tia só resolve atravessar os aposentos depois de prolongada vacilação , intermináveis observações oculares e palavras desaforadas a qualquer menino que passa. Depois se põe  a caminho, apoiando primeiro um pé e movendo-o como um boxeador no ringue, depois o outro, transladando o corpo num deslocamento que na infância achávamos majestoso, e demorando vários minutos para ir de uma porta a oura. É algo horrível.
Várias vezes a família tentou que minha tia explicasse com alguma coerência  o seu temor a cair de costas. Em certa ocasião ela foi recebida com um silêncio que se teria podido cortar com uma foice; mas uma noite, depois de beber seu copinho com aspirina, a tia insinuou que se caísse de costas não poderia tornar a levantar-se. Á observação elementar de que trinta e cinco membros da família estavam dispostos a acudir em seu socorro, respondeu com um olhar lânguido e duas palavras: “Tanto faz”.
Sem uma palavra assistimos à sua inútil e longa luta por erguer-se, enquanto outras baratas, vencendo a intimidação da luz, circulavam pelo chão e passavam rente à que jazia, morrendo em posição de decúbito dorsal.
Fomos para a cama com uma profunda melancolia, e por esta ou aquela razão ninguém tornou a interrogar a tia, limitamo-nos a aliviar na medida do possível seu medo, acompanha-la em seus passos, dar-lhe o braço e comprar-lhe uma quantidade de sapatos de solas antiescorregantes e outros dispositivos estabilizadores. A vida continuou assim, e não era pior do que outras vidas.

Discurso do Urso, de Julio Cortázar

Doce, poético ... lindo! Muito bom saborear esse texto e ver o Pomp Federico em ação! ... Mais um que está em Fantástico Cotidiano:


DISCURSO DO URSO

Eu sou o urso dos canos da casa, subo pelos canos nas horas de silêncio, pelos tubos de água quente, do aquecimento, do ar-condicionado, vou pelos tubos de apartamento em apartamento, sou o urso que vai por todos os canos.
            Acho que gostam de mim porque meu pêlo conserva os condutos limpos, corro incessantemente pelos tubos e do que eu mais gosto é passar de andar em andar escorregando pelos canos. Às vezes puxo uma pata pela bica e a moça do terceiro andar berra que se queimou, ou grunho na altura do forro do segundo andar e a cozinheira Guilhermina se queixa de que o gás anda ruim. De noite ando calado e é quando ando mais depressa, apareço no teto pela chaminé para ver se a lua está dançando lá em cima, e me deixo escorregar como o vento até as caldeiras do porão. E no verão nado à noite na cisterna salpicada de estrelas, lavo o rosto primeiro com uma mão, depois com as duas juntas, e isso me produz uma alegria muito grande.
Então escorrego por todos os canos da casa, grunhindo contente e os casais se agitam em seus leitos e reclamam contra a instalação dos encanamentos. Alguns acendem a luz e escrevem num paplezinho para lembrar-se de reclamar quando virem o porteiro. Eu procuro a bica que sempre fica aberta em algum andar, por ali meto o nariz e espio a escuridão dos quartos onde moram esses seres que não podem andar pelos canos, e fico com pena de vê-los tão desajeitados e grandes, de escutar como roncam e sonham em voz alta e estão tão sós. Quando eles lavam o rosto de manhã, eu lhes acaricio as faces, lambo-lhes o nariz e vou-me embora, vagamente convencido de ter feito um bem.

Cronópios, Famas e Esperanças


Conforme nos pediram, seguem alguns dos textos que estamos apresentando em FANTÁSTICO COTIDIANO:
 
Viagens

Quando os famas saem em viagem, seus costumes ao dormirem numa cidade são os seguintes: um fama vai ao hotel e pergunta cautelosamente os preços, a qualidade dos lençóis e a cor dos tapetes. O segundo se dirige à delegacia e declara, como segurança, quais os móveis e imóveis dos três, assim como o conteúdo de suas malas. O terceiro fama vai ao hospital e copia as listas dos médicos de plantão e suas especializações.
Terminadas estas providências, os viajantes se reúnem na praça principal da cidade, comunicam-se suas observações e entram no café para beber um aperitivo. Mas antes eles se seguram pelas mãos e dançam em roda. Esta dança recebe o nome de dança dos famas.
Quando os cronópios saem em viagem, encontram os hotéis cheios, os trens já partiram, chove a cântaros e os táxis não querem leva-los ou lhes cobram preços altíssimos. Os cronópios não desanimam porque acreditam piamente que estas coisas acontecem a todo mundo, e na hora de dormir dizem uns aos outros: “Que bela cidade, que belíssima cidade”. E sonham a noite toda que na cidade há grandes festas e que eles foram convidados. E no dia seguinte levantam contentíssimos, e é assim que os cronópios viajam.
As esperanças, sedentárias (acomodadas), deixam-se viajar pelas coisas e pelos homens, e são como as estátuas, que é preciso vê-las, porque elas não vêm até nós.


Histórias

Um cronópio pequenininho procurava a chave da porta da rua no criado-mudo, o criado-mudo no quarto de dormir, o quarto de dormir na casa, a casa na rua. Por aqui parava o cronópio, pois para sair à rua precisava da chave da porta.




A foto saiu fora de foco

Um cronópio vai abrir a porta da rua e ao enfiar a mão no bolso para pegar a chave o que tira é uma caixa de fósforos; então este cronópio fica muito aflito e começa a pensar que se em vez da chave ele encontra os fósforos, seria terrível que o mundo se houvesse deslocado de repente, e então se os fósforos estão no lugar da chave, pode acontecer que ele ache a carteira de dinheiro cheia de açúcar, e a lista de telefone cheia de música, e o armário cheio de telefones, e acama cheia de roupas, e as jarras cheias de lençóis, e os trens cheios de rosas, e os campos cheios de bondes. Assim, este cronópio fica horrivelmente aflito e corre para se olhar no espelho, mas como o espelho está um pouco de lado, o que ele enxerga é o porta-guarda-chuvas, e suas desconfianças se confirmam e ele dasata a soluçar, cai de joelhos e junta suas mãozinhas nem sabe pra quê. Os famas vizinhos acodem para consolá-lo, e também as esperanças, mas demora muito até que o cronópio saia do seu desespero e aceite uma chícara de chá, que olha e examina muito antes de beber, não vá acontecer que em lugar de uma xícara de chá seja um formigueiro ou um livro de Paulo Coelho.


Faça como se estivesse em sua casa

Uma esperança construiu uma casa e colocou-lho um azulejo que dizia: Bem-vindos os que chegam a este lar.
Um fama construiu uma casa e não colocou azulejo nenhum.
Um cronópio construiu uma casa e seguindo o hábito colocou na entrada diversos azulejos que comprou ou mandou fazer. Os azulejos eram dispostos do maneira que se pudesse lê-los em ordem. O primeiro dizia: Bem-vindos os que chegam a este lar. O segundo dizia: A presença do hóspede é suave como a flor. O quarto dizia: Somos pobres de verdade, mas não de vontade. O quinto dizia: Este cartaz anula todos os anteriores. Se manda, malandro.


Flor e cronópio

Um cronópio encontra uma flor solitária no meio dos campos. Primeiro pensa em arranca-la, mas percebe que é uma crueldade inútil, e se coloca de joelho junto dela e brinca alegrmente com a flor, isto é: acaricia-lhe as pétalas, sopra para que ela dance, zumbe feito uma abelha, cheira seu perfume, e deita finalmente debaixo da flor envolvido em uma enorme paz.
A flor pensa: “É como uma flor!”.


Tartarugas e cronópios

Agora acontece que as tartarugas são grandes admiradoras da velocidade, como é natural.
As esperanças sabem disso e não ligam.
Os famas sabem e caçoam.
Os cronópios sabem e cada vez que encontram uma tartaruga, puxam a caixa de giz colorido e na lousa redonda da tartaruga desenham uma andorinha.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Não confunda pé com pé

Contação e palhaçada! É no que estamos trabalhando agora eu e Julieta Zarza, minha amiga palhaça. Isso para a temporada no Centro cultural em junho! Uma homenagem a Julio Cortázar.
Está sendo incrível a imersão no universo de Cortázar! O  cara é muito louco, maravilhosamente louco! Me lembra Clarice Lispector com uma ironia afiadíssima na ponta do lápis. Faremos o espetáculo FANTÁSTICO COTIDIANO, com contos de HISTÓRIAS DE CRONÓPIOS E DE FAMAS todos os sábados e domingos de junho as 14:30 no C.C. São Paulo. Vai uma canjinha de Instruções para subir uma escada:

" Colocando no primeiro degrau essa parte, que para simplificar chamaremos de pé, recolhe-se a parte correspondente do lado esquerdo (também chamada de pé, mas que não se deve confundir com o pé já mencionado ..."

Minhoca de paraquedas

Sorocaba é logo ali! Nunca tinha ido lá e me surpreendi com o tanto que é pertinho. Acho que é porque quando eu era criança (lá em Barbacena!), eu frequentava a casa de uma tia que tinha parentes em Sorocaba, daí ela dizia "Fulano tá vindo de  Sorocaba, viajou a noite toda!", só que isso era em Goiânia. Então ficou gravado pra mim que Sorocaba era longe pra dedéu! Mas daqui, da capitar de São Paulo, é pertinho, levamos uma hora e meia no máximo!
E mais surpresa fiquei com a criançada de lá! Molecada esperta, siô! Super participativos e ligados. E quando fiz o tradicional adivinha: "o que é o que é, cai em pé e corre deitado?" todo mundo respondeu em coro: "Chuva!", mas depois qdo já estavam em silêncio, uma vozinha fina falou alto: "É uma minhoca de paraquedas!" ... e eu aprendi mais essa!
Isso foi quando fizemos as hilárias histórias de "Malazartes e outros Pedros da América Latina". Na semana seguinte fizemos "Do continente irmão" pra uma platéia loooootada! Ô delícia!

quinta-feira, 14 de abril de 2011


Essas fotos são da Anali Duprê e estão no novo projeto: DO CONTINENTE IRMÃO QUE FORMOU A NOSSA GENTE.
Falando nisso, nossa gente, que delícia fazer essas histórias! Histórias que fazem de carne e osso heróis, reis e rainhas da mitologia afro-brasileira, adoro!!! E quando fazemos a brincadeira com as palavras de origem africana, cafuné, fofoca, dengo, cochilo, samba, mano, xepa ...segura a língua se não dá um nó! Despertou até para outras curiosidades: "e a palavra mandioca?", perguntou o João na Livraria da Vila, "essa não, João, essa vem de Mani oca, dos índios Tupi!". Fizemos duas apresentações na Livraria da Vila, contando agora com a percussão dos amigos queridos: Mestre Nico e Rafaella Nepomucemo (Rafa, tá faltando a foto! Bora providenciar!). Em maio, fazemos SESC Sorocaba nos dias 7, 21 e 28! Até lá!!

quarta-feira, 9 de março de 2011

vídeo e história com piano

Ufa! Que coisa complicada essa de editar vídeos! Bom, ainda estou no processo de aprendizado para em seguida conquistar a independência nesse quesito. Enquanto isso não acontece, a Lilian Santiago, minha querida amiga cineasta, está preparando uma ediçãozinha melhor da última apresentação gravada!
De antemão seguem dois links com trechos que consegui postar:

http://www.youtube.com/watch?v=r_Axk9YDPSU

http://www.youtube.com/watch?v=Eq1C2TcdvrQ

No mais, descobri por acaso que o piano é um ótimo instrumento, não só para produzir música, mas também para produzir invenção de histórias!
Esperando o pessoal da Domínio Público na sala de ensaio, Joana abriu o piano e começou a inventar mais uma de suas histórias surreais a partir de umas notinhas que ia tirando. E eu entrei na dança, é claro. Ali do lado fui "fisicalizando" a história! Êita brincadeira boa essa de transformar notas de piano em notas de histórias!

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

AS ÚLTIMAS!

Tardo, mas não falho! Venho contar das últimas de 2010 e das primeiras de 2011!
Em novembro e dezembro fizemos novamente Sesc Osasco, com NO MEIO DO CALDEIRÃO e PALHAÇOS E BOIS NO NATAL BRASIL ADENTRO. Essa última foi uma homenagem as festas do ciclo natalino que acontecem pelo interior do Brasilzão: a Folia de Reis, a Catira e o Cavalo Marinho. Foi uma delícia de fazer e também foi desafiante! O texto que criei tinha um pouco de autobiografia, já que meu vô João, meu xodó, foi folião em Araxá e quando pequena eu assistia a tudo. Além de contar e cantar também dançei a catira e o Cavalo Marinho, com máscaras de Bastião, Ambrósio e chapéu de Mateus ... haja fôlego! Logo mais posto aqui o vídeo de uma das apresentações!

Abrindo 2011 tive a oportunidade de partilhar muita alegria com as crianças internas do Hospital SARAH em Salvador. Foi realmente especial, um lugar extremamente agradável! E não duvidem disso porque é um hospital! É incrível a diferença quando um trabalho é feito com seriedade, dedicação e profissionalismo. Os profissionais do Sarah, como o André, a Daniele e a Wanessa prepararam tudo e as crianças, suas mães e funcionários estavam lá  partilhando daquele momento de viagem com histórias e músicas que contavam de bichos, árvores sábias e da coragem do caçador de uma flecha só, Oxossi.